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COMUNICAÇÃO E PATRIMÓNIO MUNDIAL - Blogue de Apoio à Tese de Doutoramento

Exemplo de Opinião Públicada nos Media sobre o Património: Interior Exterior: Galiza Transmontana?

A euro-região Galiza – Norte de Portugal é uma das realidades mais inegáveis no posicionamento de Portugal na Península e na própria União Europeia. A ligação ancestral, diria que de nascimento, dos dois territórios, e longamente atacada pelos poderes governativos de Madrid e de Lisboa, encontrou um balão de oxigénio na entrada dos dois estados ibéricos na então CEE. As fronteiras caíram lá para 1992. E a ligação tornou-se ainda mais forte.

Hoje em dia, esta realidade de 50.000 quilómetros quadrados, habitados por 6,4 milhões de pessoas, constitui uma realidade bastante heterogénea, com zonas urbanas e industriais de vanguarda e também com as zonas mais pobres e empobrecidas da Península.

Os habitantes das aldeias de Montalegre, Chaves, Vinhais e Bragança sempre se relacionaram directamente com os galegos, os vizinhos do Norte. Ora através de trocas comerciais ilegais, vulgo contrabando, ora mesmo, e muito comummente, através de casamentos. Mas não só o Alto Trás-os-Montes experimentou o casamento com a Galiza. O nosso Alto Douro Vinhateiro, hoje Património da Humanidade, foi construído com a força dos galegos de Ourense que, como os transmontanos da Terra Fria, também desciam ao Douro sazonalmente na época da vindima. E dos afiadores, alguém ainda se lembra? Muitos deles eram também da Galiza interior, miserável e espoliada pelas mesmas elites que um dia se enfrentaram ao fundador do Reino de Portugal. Alguém aqui atrás falou delas, das elites, da sua cegueira...
Já na segunda metade do século XX, muitos transmontanos saltaram a raia seca rumo às pedreiras e minas do Barco de Valdeorras. Mas basta percorrer um pouco os concelhos do interior da Galiza para verificar a histórica presença de portugueses, quase sempre transmontanos, nas serrações, florestas, além das actividades já referidas. Hoje em dia, a comarca do Barco de Valdeorras concentra cerca de 2 mil portugueses, quase todos oriundos de Trás-os-Montes. No ensino secundário local muitos optam por Português, o de Lisboa, como língua estrangeira.
São as surrealidades bem reais das nossas histórias e vidas: o povo das aldeias de um e outro lado da raia seca sempre falou a mesma língua, salvo algumas pequenas excepções. Só que as realidades estatais ditaram o afastamento cultural dos dois povos. O que hoje, apesar das boas palavras dos mais democráticos governantes, se mantém.

Diferente é a economia. Como estamos numa era em que a ciência económica tudo quer explicar, ordenar, justificar, planificar, para tudo é preciso utilizar dados económicos, pois bem: o Norte de Portugal é o principal parceiro comercial da Galiza. Mais: as províncias de Pontevedra (que inclui a pujante cidade de Vigo) e de Ourense realizam com o Norte de Portugal quase metade de todas as trocas comerciais. Basta vermos os projectos existentes, alguns em andamento, outros ainda no papel: o caso Chaves-Verim, com a sua zona logística e industrial comum, diz-vos alguma coisa?

De facto, depois da queda do poder do último governante franquista, digo Fraga Iribarne, que governou clientelarmente e autoritariamente a Galiza até há dois anos atrás, as trocas culturais parecem ter conquistado uma oficialidade nunca antes observada. Falo do Congresso da Raia sobre Memória Histórica, falo dos Encontros da Lusofonia de Bragança, falo das ligações da própria UTAD com as universidades galegas. O ministério da cultura da Galiza, responsabilidade do único partido político com representação parlamentar que sempre defendeu e incentivou a ligação histórica com Portugal, o BNG (Bloco Nacionalista Galego, de esquerda), apoiou e continua a incentivar este tipo de actividades.

Já agora, para quando uma ligação rodoviária de Trás-os-Montes com a capital da Galiza, Santiago de Compostela? Empresários transmontanos do sector dos transportes: seria lucrativo existir esta ligação, pelo menos aos fins-de-semana e em ambos os sentidos. Há bastante procura, a divulgação do nosso Reino Maravilhoso em terras galegas tem-se continuado a fazer, há curiosidade e interesse. Vejam: Bragança-Vinhais-Chaves-Verim-Ourense-Lalim-Santiago de Compostela!"

Domingos Guedes 

Extraído do Sítio on-line do Diário de Trás-os-Montes: http://www.diariodetrasosmontes.com/cronicas/cronicas.php3?id=731&linkCro=1, a 22 de Março de 2007

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